Caros amigos, aqui estou eu, finalmente, para relatar como
correu a minha experiência com o JRX na sessão oficial de testes do FIA
European Rallycross Championship 2013, que decorreu esta sexta-feira na
pista de Lydden Hill, no sul de Inglaterra. Com o
convite da organização feito apenas 3 dias antes do evento, só na
quinta-feira ao fim da tarde tivemos a certeza de que poderíamos estar
presentes.
Confesso que estava um pouco nervoso por ir
encontrar vários pilotos do Europeu e partilhar a pista com eles. Ok, o
voo de avião também me mantinha bem acordado! Quanto ao teste em si,
apenas queria conduzir o carro e ver como se comportava pois sabia que
era muito diferente de tudo aquilo que já conduzira. Não havia pressão
nenhuma em termos de resultados ou em mostrar qualquer marca em tempos
cronometrados. Queria divertir-me sobretudo, avaliar as minhas
capacidades e as do carro e saber se era mesmo isto que procurava para
esta época.
Chegados a Londres, seguiu-se uma viagem de
carro de cerca de 150 Km até à pista, onde chegamos cerca das 11h, a
hora a que estava marcado o início do evento. A viagem de carro foi um
dos momentos mais stressantes de tudo, pois era necessário manter muita
atenção para não conduzirmos pelo lado errado da estrada e provocar um
acidente.
Uma vez na pista, fomos recebidos na tenda da Monster Energy, o
patrocinador principal do campeonato. Com uma temperatura exterior a
rondar os 0ºC, um forte vento que fazia com que parecesse estarem -5ºC e
com momentos em que a neve caiu com bastante intensidade, o local mais
convidativo para se estar era mesmo no seu interior aquecido.
No exterior podíamos observar toda a logística da Monster Energy que
vai marcar presença nas provas e promete muita animação, assim como
vários Supercars e S1600 de pilotos que vão fazer o campeonato 2013.
Notaram-se algumas ausências devido ao facto de algumas equipas ainda
não terem os carros prontos.
Pouco depois das boas-vindas e da apresentação dos pilotos presentes e
que vão disputar todo o campeonato, foi a vez de me sentar no carro JRX
para a explicação dos comandos e de algumas particularidades da
mecânica.
Era a primeira vez que conduzia um carro 4x4 e com caixa sequencial,
mas não senti grandes dificuldades nesses capítulos. Mais difícil era a
direção, que por ser directa e sem assistência, requeria um esforço
enorme para se usar em baixas velocidades ou nas manobras. Uma bela
sessão de ginásio que me foi oferecida pelo carro!
Outro aspecto que me causou mais estranheza foi o motor. Explicaram-me
que por ser a 2 tempos, era necessário acelerar bastante para o carro
arrancar. Mas era preciso quase acelerar a fundo para arrancar e
confesso que cheguei a deixá-lo ir abaixo. Mas nisso, não fui o único e
vi pilotos bem mais experientes a terem o mesmo problema.
Fiz algumas voltas para me ir habituando ao comportamento do carro e
reconhecer a pista. Pouco depois comecei a aumentar o ritmo e fui
tirando as primeiras impressões. Cada sessão era necessariamente curta,
devido ao facto do depósito de combustível ficar vazio ao fim de cerca
de 10 voltas e também porque a tareia que os braços levam não deixavam
andar muito mais. Consegui não fazer nenhum erro e entregar o carro
direito e a equipa ficou satisfeita com o meu desempenho, pois consegui
imprimir um ritmo muito semelhante ao dos pilotos participantes no
campeonato de 2012 e que também estiveram no evento.
As impressões que fui recolhendo ao longo das várias sessões foram que
o carro é bastante nervoso em termos de chassis, principalmente nas
zonas de terra ou com mau piso. A inserção em curva era excelente, mas a
meio da curva, qualquer irregularidade no piso ou abuso do volante ou
acelerador faziam com que a traseira descolasse subitamente e fosse
necessário contrabrecar para manter a trajectória. A explicação talvez
esteja na reduzida distância entre eixos ou numa suspensão demasiado
rija. Ou então seria eu que teria que fazer algumas adaptações no meu
estilo de condução, se bem que vi outros pilotos já bastante experientes
com o carro a fazerem peões de repente. O meu carro de 2012 era muito
mais previsível e a suspensão absorvia muito mais as irregularidades do
terreno. O JRX tem uma condução muito semelhante à de um kart, muito
nervoso e reactivo.
A caixa de velocidades foi um ponto que não me colocou qualquer
problema, rapidamente me adaptei ao seu manuseamento. A direcção, como
já disse é directa e de reação muito rápida, com a contrapartida de
obrigar a um grande esforço de braços mesmo em corrida. Para se poder
explorar completamente o carro é necessário ter uma excelente condição
física sobretudo na parte superior do tronco.
Quanto ao
motor, foi a parte que menos me entusiasmou. Trata-se de um motor Rotax
a 2 tempos, igual aos usados nas motos de neve, com 600cc de capacidade
e 140cv. Era um motor muito pontudo, com uma entrega de potência brusca
e disponível apenas em altas rotações.
Talvez por ser tão diferente daquilo a que estou habituado, ou não ter
conseguido usá-lo da melhor forma, fiquei sempre com a sensação de que
faltava potência. Isto era mais notório na longa recta a subir, onde
trocava de velocidade à saída da curva e o carro ia por ali acima sem
aquela subida de velocidade que eu esperava. A potência indicada é
semelhante à do Corolla que usei este ano (140cv) mas o peso é bastante
inferior pelo que esperava acelerações mais notórias. Várias vezes me
deu a sensação de que o motor subia de rotação, mas isso não era
transmitido às rodas. Isso foi particularmente notório na última vez que
fui para a pista, ao fim da tarde, em que se notava que quando o motor
disparava, havia um aumento de rotações do motor e do barulho emitido,
mas isso não se traduzia num aumento de velocidade. Mesmo na recta da
meta, que desce pronunciadamente, notava esse fenómeno, pelo que penso
que deveria haver algum problema com a embraiagem a patinar ou com a
correia de transmissão com gordura ou sujidade.
Todo o evento correu muito bem, fomos muito bem recebidos pela
organização e viu-se uma grande aposta na promoção da modalidade, que se
traduz para já na transmissão de várias provas em directo, estando
prometidas mais novidades para breve. A equipa MAKS, responsável pela
concepção do carro e promoção da classe Junior Rallycross foi
inexcedível na atenção prestada, a exemplo daquilo que já vinha fazendo
desde meados do ano passado, quando pela primeira vez mostrou interesse
na minha participação no campeonato. O carro foi transportado
propositadamente de França para este evento e a acompanhá-lo estava uma
equipa de 6 pessoas, entre técnicos e responsáveis de relações públicas.
Mais uma vez lhes agradeço a fantástica oportunidade e experiência que
me proporcionaram.
Com o fim do dia a chegar rapidamente e com a temperatura a descer
ainda mais, foi tempo de rumar ao hotel para um merecido descanso e para
um banho bem quente que me fez lembrar novamente que ainda tinha pés e
mãos colados ao corpo. Por várias vezes deixei de conseguir fechar os
dedos das mãos durante os testes.
Depois de um óptimo
jantar no hotel, foi tempo de ir para a cama logo a seguir. Com o
cansaço dormi seguidinho até ao outro dia, quando iniciamos o regresso
ao aeroporto de Londres, novamente debaixo de uma tempestade de neve,
que em alguns momentos me fez recear que fossemos ficar mais uns dias
fora de casa.
Quanto ao futuro, continua tudo muito
incerto. Os apoios que consegui reunir até ao momento são manifestamente
insuficientes para pensar fazer as 7 provas do Campeonato Europeu. Na
verdade, até para fazer o Campeonato Nacional não chegam e corro o sério
risco de ficar parado este ano. Mas não poderia perder esta fantástica
oportunidade que me foi concedida de experimentar um carro único e
conviver de perto com alguns dos pilotos que mais admiro.
Resta agora tentar reunir apoios que me permitam manter a actividade
desportiva em 2013, mas tenho que ser realista e reconhecer que o
Europeu é um sonho quase impossível neste momento, em que os apoios em
Portugal são escassos e de valores muito reduzidos. Vamos fazer um
último esforço para mostrar aos potenciais patrocinadores, que posso dar
um retorno bem superior àquele que possam investir na minha carreira.
Neste aspecto em particular estou bastante satisfeito com o trabalho
que temos desenvolvido ao longo dos anos, e penso que não haverá nenhum
patrocinador que esteja desiludido com os resultados apresentados, quer a
nível desportivo, quer no mais importante aspecto do retorno mediático
proporcionado.
2012 foi um ano excepcional, em que
consegui o título nacional e o reconhecimento do meu valor por parte de
vários dos mais importantes sectores ligados ao desporto automóvel,
tanto em Portugal, como no estrangeiro.
Volto a
agradecer todo o apoio recebido ao longo destes anos e fiquei
extremamente satisfeito com o interesse e entusiasmo que esta deslocação
a Inglaterra despertou em todos, traduzido numa avalancha de notícias,
mensagens de apoio e felicitações enviadas por e-mail ou através das
redes sociais.
Espero em breve voltar ao vosso contacto com mais novidades da minha carreira.
Um grande abraço,
Rafael Lobato
Luis !!! que mecanica é que isso tem ?????
ResponderEliminarO motor deriva dos motores usados nas motas de neve, a 2 tempos... uma invenção :)
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