25/02/13

Crónica de Rafael Lobato sobre o teste do carro da Junior Rallycross do Campeonato Europeu de Ralicross

Caros amigos, aqui estou eu, finalmente, para relatar como correu a minha experiência com o JRX na sessão oficial de testes do FIA European Rallycross Championship 2013, que decorreu esta sexta-feira na pista de Lydden Hill, no sul de Inglaterra. Com o convite da organização feito apenas 3 dias antes do evento, só na quinta-feira ao fim da tarde tivemos a certeza de que poderíamos estar presentes.

   Confesso que estava um pouco nervoso por ir encontrar vários pilotos do Europeu e partilhar a pista com eles. Ok, o voo de avião também me mantinha bem acordado! Quanto ao teste em si, apenas queria conduzir o carro e ver como se comportava pois sabia que era muito diferente de tudo aquilo que já conduzira. Não havia pressão nenhuma em termos de resultados ou em mostrar qualquer marca em tempos cronometrados. Queria divertir-me sobretudo, avaliar as minhas capacidades e as do carro e saber se era mesmo isto que procurava para esta época.

   Chegados a Londres, seguiu-se uma viagem de carro de cerca de 150 Km até à pista, onde chegamos cerca das 11h, a hora a que estava marcado o início do evento. A viagem de carro foi um dos momentos mais stressantes de tudo, pois era necessário manter muita atenção para não conduzirmos pelo lado errado da estrada e provocar um acidente.



   Uma vez na pista, fomos recebidos na tenda da Monster Energy, o patrocinador principal do campeonato. Com uma temperatura exterior a rondar os 0ºC, um forte vento que fazia com que parecesse estarem -5ºC e com momentos em que a neve caiu com bastante intensidade, o local mais convidativo para se estar era mesmo no seu interior aquecido.



   No exterior podíamos observar toda a logística da Monster Energy que vai marcar presença nas provas e promete muita animação, assim como vários Supercars e S1600 de pilotos que vão fazer o campeonato 2013. Notaram-se algumas ausências devido ao facto de algumas equipas ainda não terem os carros prontos.



   Pouco depois das boas-vindas e da apresentação dos pilotos presentes e que vão disputar todo o campeonato, foi a vez de me sentar no carro JRX para a explicação dos comandos e de algumas particularidades da mecânica.



   Era a primeira vez que conduzia um carro 4x4 e com caixa sequencial, mas não senti grandes dificuldades nesses capítulos. Mais difícil era a direção, que por ser directa e sem assistência, requeria um esforço enorme para se usar em baixas velocidades ou nas manobras. Uma bela sessão de ginásio que me foi oferecida pelo carro!



   Outro aspecto que me causou mais estranheza foi o motor. Explicaram-me que por ser a 2 tempos, era necessário acelerar bastante para o carro arrancar. Mas era preciso quase acelerar a fundo para arrancar e confesso que cheguei a deixá-lo ir abaixo. Mas nisso, não fui o único e vi pilotos bem mais experientes a terem o mesmo problema.



   Fiz algumas voltas para me ir habituando ao comportamento do carro e reconhecer a pista. Pouco depois comecei a aumentar o ritmo e fui tirando as primeiras impressões. Cada sessão era necessariamente curta, devido ao facto do depósito de combustível ficar vazio ao fim de cerca de 10 voltas e também porque a tareia que os braços levam não deixavam andar muito mais. Consegui não fazer nenhum erro e entregar o carro direito e a equipa ficou satisfeita com o meu desempenho, pois consegui imprimir um ritmo muito semelhante ao dos pilotos participantes no campeonato de 2012 e que também estiveram no evento.



   As impressões que fui recolhendo ao longo das várias sessões foram que o carro é bastante nervoso em termos de chassis, principalmente nas zonas de terra ou com mau piso. A inserção em curva era excelente, mas a meio da curva, qualquer irregularidade no piso ou abuso do volante ou acelerador faziam com que a traseira descolasse subitamente e fosse necessário contrabrecar para manter a trajectória. A explicação talvez esteja na reduzida distância entre eixos ou numa suspensão demasiado rija. Ou então seria eu que teria que fazer algumas adaptações no meu estilo de condução, se bem que vi outros pilotos já bastante experientes com o carro a fazerem peões de repente. O meu carro de 2012 era muito mais previsível e a suspensão absorvia muito mais as irregularidades do terreno. O JRX tem uma condução muito semelhante à de um kart, muito nervoso e reactivo.



   A caixa de velocidades foi um ponto que não me colocou qualquer problema, rapidamente me adaptei ao seu manuseamento. A direcção, como já disse é directa e de reação muito rápida, com a contrapartida de obrigar a um grande esforço de braços mesmo em corrida. Para se poder explorar completamente o carro é necessário ter uma excelente condição física sobretudo na parte superior do tronco.

   Quanto ao motor, foi a parte que menos me entusiasmou. Trata-se de um motor Rotax a 2 tempos, igual aos usados nas motos de neve, com 600cc de capacidade e 140cv. Era um motor muito pontudo, com uma entrega de potência brusca e disponível apenas em altas rotações.



   Talvez por ser tão diferente daquilo a que estou habituado, ou não ter conseguido usá-lo da melhor forma, fiquei sempre com a sensação de que faltava potência. Isto era mais notório na longa recta a subir, onde trocava de velocidade à saída da curva e o carro ia por ali acima sem aquela subida de velocidade que eu esperava. A potência indicada é semelhante à do Corolla que usei este ano (140cv) mas o peso é bastante inferior pelo que esperava acelerações mais notórias. Várias vezes me deu a sensação de que o motor subia de rotação, mas isso não era transmitido às rodas. Isso foi particularmente notório na última vez que fui para a pista, ao fim da tarde, em que se notava que quando o motor disparava, havia um aumento de rotações do motor e do barulho emitido, mas isso não se traduzia num aumento de velocidade. Mesmo na recta da meta, que desce pronunciadamente, notava esse fenómeno, pelo que penso que deveria haver algum problema com a embraiagem a patinar ou com a correia de transmissão com gordura ou sujidade.



   Todo o evento correu muito bem, fomos muito bem recebidos pela organização e viu-se uma grande aposta na promoção da modalidade, que se traduz para já na transmissão de várias provas em directo, estando prometidas mais novidades para breve. A equipa MAKS, responsável pela concepção do carro e promoção da classe Junior Rallycross foi inexcedível na atenção prestada, a exemplo daquilo que já vinha fazendo desde meados do ano passado, quando pela primeira vez mostrou interesse na minha participação no campeonato. O carro foi transportado propositadamente de França para este evento e a acompanhá-lo estava uma equipa de 6 pessoas, entre técnicos e responsáveis de relações públicas. Mais uma vez lhes agradeço a fantástica oportunidade e experiência que me proporcionaram.



   Com o fim do dia a chegar rapidamente e com a temperatura a descer ainda mais, foi tempo de rumar ao hotel para um merecido descanso e para um banho bem quente que me fez lembrar novamente que ainda tinha pés e mãos colados ao corpo. Por várias vezes deixei de conseguir fechar os dedos das mãos durante os testes.

   Depois de um óptimo jantar no hotel, foi tempo de ir para a cama logo a seguir. Com o cansaço dormi seguidinho até ao outro dia, quando iniciamos o regresso ao aeroporto de Londres, novamente debaixo de uma tempestade de neve, que em alguns momentos me fez recear que fossemos ficar mais uns dias fora de casa.

   Quanto ao futuro, continua tudo muito incerto. Os apoios que consegui reunir até ao momento são manifestamente insuficientes para pensar fazer as 7 provas do Campeonato Europeu. Na verdade, até para fazer o Campeonato Nacional não chegam e corro o sério risco de ficar parado este ano. Mas não poderia perder esta fantástica oportunidade que me foi concedida de experimentar um carro único e conviver de perto com alguns dos pilotos que mais admiro.



   Resta agora tentar reunir apoios que me permitam manter a actividade desportiva em 2013, mas tenho que ser realista e reconhecer que o Europeu é um sonho quase impossível neste momento, em que os apoios em Portugal são escassos e de valores muito reduzidos. Vamos fazer um último esforço para mostrar aos potenciais patrocinadores, que posso dar um retorno bem superior àquele que possam investir na minha carreira.

   Neste aspecto em particular estou bastante satisfeito com o trabalho que temos desenvolvido ao longo dos anos, e penso que não haverá nenhum patrocinador que esteja desiludido com os resultados apresentados, quer a nível desportivo, quer no mais importante aspecto do retorno mediático proporcionado.

   2012 foi um ano excepcional, em que consegui o título nacional e o reconhecimento do meu valor por parte de vários dos mais importantes sectores ligados ao desporto automóvel, tanto em Portugal, como no estrangeiro.

   Volto a agradecer todo o apoio recebido ao longo destes anos e fiquei extremamente satisfeito com o interesse e entusiasmo que esta deslocação a Inglaterra despertou em todos, traduzido numa avalancha de notícias, mensagens de apoio e felicitações enviadas por e-mail ou através das redes sociais.

   Espero em breve voltar ao vosso contacto com mais novidades da minha carreira.

   Um grande abraço,

   Rafael Lobato

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